Pandemia, centenário, eleição: o futuro cruzeirense em meio às crises que o abalam e ao mundo


Nada é mais imprevisível neste momento de pandemia mundial que o futuro. Nada é mais urgente para o Cruzeiro, na maior crise da sua história, que definir o futuro. Assim vive o clube a pouco mais de nove meses da comemoração do seu centenário, em 2 de janeiro de 1921.

Praticamente fora das semifinais do Campeonato Mineiro, a Raposa, quando o futebol voltar, e não há nenhuma previsão sobre quando isso acontecerá, terá como tarefa principal buscar na Série B do Campeonato Brasileiro a volta à elite do futebol nacional.

Para piorar a situação, tudo o que foi feito até agora está grande parte perdido, pois o técnico Adilson Batista não conseguiu fazer o limitado time azul apresentar pelo menos um mínimo que pudesse trazer esperança.

Diante do fracasso, o Núcleo Dirigente Transitório, que comanda o clube desde o final do ano passado, com a renúncia de Wagner Pires de Sá e seus dois vices, demitiu o treinador e contratou Enderson Moreira, que chegou a Belo Horizonte no início desta semana e tem contrato que pode durar até o final do ano que vem. Resumindo: ele pode dirigir o time no ano do seu centenário, desde que tenha sucesso na Série B.

Tudo isso aconteceu cerca de um mês antes da eleição que definirá, ou definiria, o novo presidente cruzeirense e está marcada para 21 de maio.

Na noite da última sexta-feira, o Núcleo Dirigente Transitório acrescentou novo capítulo à crise celeste soltando uma nota em que se coloca contrário à realização das eleições, pelo cenário atual de pandemia. Além disso, afirma que se o pleito acontecer, não terá candidato – Emílio Brandi seria o concorrente do grupo – e se retirará do Cruzeiro em 31 de maio.

Veja a nota do Núcleo Dirigente Transitório:

Os representantes do conselho gestor do Cruzeiro vêm a público manifestar seu posicionamento a respeito de duas eleições em apenas um ano e o andamento dos trabalhos de reconstrução do Cruzeiro Esporte Clube. Nessa quinta-feira, o candidato Sérgio Santos Rodrigues afirmou que as eleições no Cruzeiro devem acontecer de qualquer maneira, mesmo com a crise provocada pela pandemia de coronavírus.

Porém, o momento é de muita cautela, não apenas pelas consequências da doença que assola o mundo, mas também pela situação do próprio Cruzeiro, que voltou a respirar após ser completamente arrasado pelas antigas gestões, culminando com o rebaixamento e a maior crise financeira de sua história.

Em três meses com o conselho gestor o Cruzeiro passou por uma grande transformação, com muitas demissões, revisão e renegociação de contratos, e a diminuição de uma folha salarial de 16 milhões para menos de 3 milhões de reais. Foi contratada a empresa Kroll, para investigação corporativa, iniciada a negociação das dívidas dos processos na Fifa, a defesa para a manutenção do clube no Profut e renegociação das antigas dívidas com os credores. Tudo isso está evoluindo porque as entidades entendem que o Cruzeiro hoje é gerido por pessoas que buscam soluções para o clube, não qualquer tipo de vantagem. E o Cruzeiro voltou a ter CREDIBILIDADE, perante a todos.

A realização de duas eleições em apenas um ano vai paralisar, ou ainda voltar as negociações à estaca zero, atrasando um processo de retomada de crescimento, justamente quando o clube começa a engrenar, ganhar ritmo na área financeira, administrativa e institucional. E com uma reformulação recente no departamento de futebol. É necessário ressaltar, da maneira mais clara possível: o Cruzeiro será o mais prejudicado.

No conselho gestor não tem nenhum político para ficar fazendo conchavos e alianças, nenhum membro que ao longo das últimas décadas vem almejando a cadeira da presidência. Emílio Brandi, candidato, hoje é o representante do Conselho Gestor e já mostrou que não tem a intenção de continuar neste mundo político da instituição. E o conselho gestor ainda tentou fazer uma composição, na tentativa de evitar um dano maior para o clube com as eleições em maio.

Uma pergunta aqui se faz necessária para a outra chapa. Por que não usar o bom senso, para deixar que o trabalho tenha continuidade por um tempo minimamente razoável?

Todos sabem os motivos que levaram o Cruzeiro à crise, com o rebaixamento no futebol, o nome da instituição em páginas policiais, descrédito em todas as esferas e sem dinheiro nem para o vale transporte das cozinheiras da Toca.

A situação era seríssima e continua muito difícil. Com uma administração austera, após cortar despesas por todos os lados, o Cruzeiro ainda pode ser derrotado se não conseguir manter uma gestão eficiente e não honrar as dívidas com os processos na Fifa, com o possível rebaixamento à Serie C caso não faça os pagamentos.

Portanto, passar por duas eleições em um único ano, com um pleito em maio e outro em outubro, será algo catastrófico para a instituição. O momento é de todos trabalharem para a recuperação do Cruzeiro, não de convencer A ou B para tentar ganhar o seu voto.

Reiterando: em maio o Brasil e o mundo ainda estarão sofrendo com o coronavírus e a sua consequente crise econômica. A intenção é que até outubro o conselho gestor dê uma continuidade ao trabalho, fazendo o que tem que ser feito, dando todo o respaldo para que o futebol siga bem em campo e atinja o objetivo principal, que é o acesso à Série A. Até lá a ‘casa’ estará mais arrumada, para então, democraticamente, se eleger o novo presidente do clube.

Caso ocorra a eleição em maio, promovendo este ‘racha’, neste momento difícil do clube, não haverá candidato do conselho gestor e no dia 31 de maio o grupo encerrará suas atividades, com todos os gestores voltando a ser apenas torcedores.

Outro lado

Candidato à presidência desde a última eleição, quando foi derrotado por Wagner Pires de Sá, o advogado Sérgio Santos Rodrigues não concorda com a postura do Núcleo Dirigente Transitória em relação ao pleito de maio. Em entrevista ao Hoje em Dia ele garante:

“Acho importante colocar as coisas em ordem. A nota dá a entender que por bom senso deveria deixar eles trabalhando até o final do ano. A eleição não fui eu quem marcou. Voltando um pouco atrás, parece que coloca nas minhas costas a disputa, mas fui lançado por um grupo de cerca de 80 conselheiros, numa reunião, em que havia inclusive a presença de integrantes do Conselho Gestor, que foram convidados para integrar a chapa, mas não aceitaram.

Menos de uma semana depois dessa reunião eles lançam o Emílio, numa reunião fechada de sete pessoas, contra a vontade de uma grande maioria. A candidatura não é minha, não sou eu que estou brigando até o fim. Esse grupo todo nos suporta e acha que temos de manter a candidatura. Convidei eles para seguirem trabalhando no clube, já que são abnegados e estão trabalhando por amor, mas se eles não quiserem, faz parte. Com certeza há várias outras pessoas competentes dispostas a trabalhar e ajudar o Cruzeiro.

Fizeram um bom trabalho sim, em algumas partes pecam, mas é normal, todo mundo vai acertar e errar. Espero ser presidente do Cruzeiro e tenho a certeza de que vou acertar e vou errar. O resumo é basicamente esse. Discordo da nota por dar o tom de que a chapa concorrente, bom senso, palavras sem necessidade. Estão criando uma animosidade, rivalidade, onde não existe. Processo eleitoral é normal. O Estatuto manda ter eleição, então tem de fazer eleição. Eu já era candidato antes, e quem lançou chapa contra a gente foi o Conselho Gestor, que poderia ter sentado, conversado, discutido, ao invés de agir da forma como agiram, inclusive usando os meios de comunicação oficial do Cruzeiro para lançar chapa, com o que a gente não concorda”.

Novo capítulo

Em entrevista à Rádio Itatiaia, na manhã deste sábado (28), o presidente interior, José Dalai Rocha, garantiu que a eleição está mantida para 21 de maio, mas que ela dependerá da pandemia de coronavírus, pois tem de ser presencial.

O candidato Sérgio Santos Rodrigues afirma que o Estatuto do clube prevê a utilização de sistema eletrônico de votação.
Assim segue o Cruzeiro, que vive a maior crise da sua quase centenária história em meio à maior pandemia deste século.
Hoje em Dia