Servidora do governo ‘cedia’ login e senha para gerente da BRF


Brasília – Carro da Polícia Federal em frente ao Ministério da Agricultura (Valter Campanato/Agência Brasil)

A Operação Carne Fraca, deflagrada nesta sexta-feira pela Polícia Federal (PF), levou por condução coercitiva a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, da Divisão de Defesa Agropecuária do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Nazareth Aguiar Magalhães para prestar depoimento na sede da PF na manhã desta sexta-feira (17). Nazareth é acusada pela Polícia Federal de beneficiar a empresa BRF S/A, detentora de marcas como Sadia e Perdigão, e receber “vantagem patrimonial” por isso. Ela foi ouvida e liberada.

A PF tem indícios que Nazareth chegou a ceder seu login e senha para acesso de Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais da BRF para que ele tivesse acesso a processo internos do órgão relacionados à empresa. A funcionária do Mapa também é investigada por articular a relotação de fiscais agropecuários com o funcionário da BRF para beneficiar a empresa. Em trechos de conversas telefônicas apresentados pela PF, Roney Nogueira “dá a entender que redigiu documento a ser assinado por Nazareth, em prol dos interesses da BRF, praticamente exercendo por ela suas atribuições profissionais”.

Nazareth foi ouvida e liberada. A PF chegou a solicitar o afastamento ou suspensão de Nazareth de seu cargo, porém, o Ministério Público Federal opinou contrariamente ao pedido, o que foi acatado pelo Juiz Federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, de onde as ordens judiciais foram expedidas. Segundo informações do G1, o juiz declarou que em Minas Gerais, as investigações foram insuficientes para aprofundar o tamanho dos atos de corrupção envolvidos.

Repercussão

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, a operação afeta todo o mercado agropecuário do Estado. “Nossos clientes, inclusive de exportação, terão todo o direito de exigir outros certificados, já que os emitidos pelos órgãos públicos perderam a credibilidade”, afirma Simões.

“É verdadeiramente deplorável essa situação. Os envolvidos precisam ser punidos com a maior urgência possível, porque, infelizmente, a situação contamina todos os produtores. Quem se envolveu em corrupção tem que ser identificado e punido”, acrescenta.

Veja trechos das conversas entre a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal em Minas Gerais, Nazareth Aguiar e o gerente de relações institucionais e governamentais da BRF, Roney Nogueira divulgados pela Polícia Federal:

RONEY: Ei, olha só, eu fiz o documento, tá. Eu entendi o que tu pediu ontem. Eu tinha esquecido.
NAZAREH: Ah, por isso que eu pedi pra você. É que eu não tenho tempo de fazer o documento procê.
RONEY:Já fiz. Tá prontinho. É só tu colocar lá na formatação do de vocês e mandar pra eles. (…)
NAZAREH:Tá. E você colocou aqueles dizeres que o pessoal de Brasília pôs?
RONEY: Sim, sim, eu coloquei sim, vou ler pra ti agora rapidinho quer ver.
NAZAREH: Eu já tô chegando lá tá.
RONEY: É olha só: eu coloquei informação. Aí tu vai colocar o número, né, do Serviço de Inspeção Federal de Produtos de Origem Animal SIPOA Minas Gerais. Ao encarregado do SIF 121. Assunto: Malásia. Habilitaçao do SIF 121. Comunicamos para os devidos fins que conforme a orientação da Divisão de Habilitação e Certificação DHC – e seguindo as orientações contidas no memorando circular 97, o estabelecimento brasileiro abaixo discriminado está habilitado para exportar para Malásia os seguintes produtos. Aí coloquei o número do SIF, tal, tal, tal, produtos em natureza, entre parênteses, carne mecanicamente separada. Tá?

NAZAREH: Você tá achando fácil os processos?
RONEY: Não , eu não tô muito consultando, não. Por que eu também não quero né. Eu só, para ti ter uma ideia eu consultei duas vezes ou três vezes no máximo.
NAZARETH: É, porque é quando precisa né.
RONEY: É, eu não quero, né, de repente, causar problema pra ti também não. Não quero, né.
NAZAREH: Não, mas não tem problema não.

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