Investigação – Com 27 mortes por Covid-19, Prefeitura de Uberlândia compra 3.200 sacos de cadáver pelo dobro do preço


Uma investigação da TV Vitoriosa quanto aos gastos da prefeitura de Uberlândia no enfrentamento à Covid-19 fez uma descoberta no mínimo curiosa. Qual a necessidade de comprar 3.200 sacos mortuários, aqueles de acondicionar cadáveres que possam transmitir alguma doença, num município onde houve 27 mortes por coronavírus? O estado de Minas Gerais inteiro teve até este dia 1º de junho 278 óbitos pela doença – número que representa menos de 10% da quantidade de sacos adquiridos pela Prefeitura. Outro ponto que chama a atenção é um valor pago pelo produto, que é pelo menos o dobro do valor de mercado. Nós fizemos pesquisas e comprovamos que os números não batem.

Cena que têm se tornado comuns nos noticiários, são as de vítimas da Covid-19 sendo sepultadas. Essas pessoas, saem dos hospitais para as funerárias em sacos pretos.

Na internet estes sacos custam aproximadamente R$ 29, no entanto, a Prefeitura de Uberlândia pagou valores até R$ 75 em cada produto. Ao todo, foram adquiridos 3200 sacos que custaram aos cofres públicos R$205.500.

Em Uberlândia, no boletim divulgado na segunda-feira, dia 01º, 27 pessoas morreram pelo novo coronavírus. A compra dos 32.00 sacos foi feita em quatro notas fiscais distintas, cada uma para um tamanho específico. Todas as notas e o processo de compra estão disponíveis no Portal da Transparência do Município.

Uma das notas por exemplo, mostra que a Prefeitura pagou R$ 75 em cada item, no lote que compreende a compra de 1500 sacos.

Nossa equipe de reportagem analisou os contratos dos gastos (ou dos investimentos) que a Prefeitura de Uberlândia aplicou no combate à pandemia. Em época de calamidade (ou situação de emergência), o executivo pode adquirir bens e insumos na saúde com dispensa de licitação. Segundo a Prefeitura, R$ 40 milhões já foram gastos.

Nós fomos até a empresa, que fez a venda do produto, localizada no Bairro Santa Mônica. A empresa é especializada em brindes e em confecção de bolsas para viagens, e não especificamente em produtos funerários.

Falamos com o dono para entender o motivo do preço superior ao de mercado e sobre a quantidade. Ele não quis gravar entrevista, mas confirmou que fez venda e que inclusive já recebeu o pagamento.

Ele ainda justificou que o material utilizado era melhor, no entanto, encontramos na internet empresas fornecendo sacos de cadáver com as mesmas recomendações da Anvisa e com o valor pela metade do informado.

Colocar as vítimas da Covid-19 em sacos isolados é recomendação da própria Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso, não se questiona. A suspeita é sobre o uso do dinheiro público gasto em uma compra em quantidade desproporcional e em produto acima do valor de mercado.

Rodrigo Fernandes