Mundial do Catar promete ser o mais integrado, com distância máxima de 35 km entre as sedes


Khalifa International Stadium, em Doha, foi o primeiro a ficar pronto para a Copa de 2022. Fonte: AFP

O fim de uma Copa do Mundo determina o início imediato de outra. Assim, o Mundial do Catar, em 2022, já está aberto, como comprova a própria iniciativa dos organizadores do Oriente Médio, que há 10 dias abriram a “tenda” na Rússia, com totens e estandes em Moscou e São Petersburgo.

A promessa é de fazer o Mundial mais integrado da história. Com oito estádios, nenhum deles a mais de uma hora da capital, Doha, garante-se que será possível assistir a dois jogos em um mesmo dia, feito inédito na competição e notável principalmente depois de edições em países continentais, como Brasil e Rússia.

“Um dos estádios já está funcionando, o Khalifa Stadium. Outros dois ficam prontos ainda este ano e os outros até 2020”, garante o porta-voz do Comitê Organizador Local (COL), também chamado de Comitê Supremo (SC, na sigla em inglês), Khalid Al Naama.

Entre os cuidados para que tudo ocorra da melhor forma possível está a instalação de ar-condicionado nos estádios e o desenvolvimento de grama específica para o clima local. Também há grande investimento em infraestrutura, com oferecimento de hotéis de luxo e sistema de transporte eficiente, inclusive sobre trilhos, facilitando o deslocamento de todos. As telecomunicações serão as mais rápidas, com implantação de telefonia 5G.

E busca-se legado. Um dos estádios, o Education City, foi projetado com o objetivo de servir à comunidade, com campos de futebol, quadras de basquete e tênis, parque aquático, campo de golfe, posto de saúde, hotéis e lojas, possibilitando o desenvolvimento esportivo e social.

Público ocidental Os estrangeiros ganham atenção especial, obviamente. Ainda que a maioria esperada tenha os mesmos costumes, por vir de países vizinhos, as autoridades catarianas sabem que muitos ocidentais visitarão o país na época do Mundial, tendo hábitos bem diferentes.

“O Catar está habituado a conviver com mistura de culturas. Nosso povo adora receber estrangeiros”, diz Al Naama, ressaltando que da população de cerca de 2,2 milhões de habitantes, menos de 20% são nativos – os demais são imigrantes, principalmente da Índia e do Nepal.

É justamente a presença de tantos estrangeiros que, segundo ele, ajuda a tornar o país um dos mais abertos do chamado Mundo Árabe. Assim, alguns hábitos dos ocidentais são e serão aceitos durante o Mundial, como o consumo de álcool, “desde que respeitado os limites (geográficos) determinados”.

Isso deverá fazer parte das já tradicionais fan fests, pontos preferidos dos sempre animados turistas em uma Copa do Mundo. A dificuldade pode ser controlá-los na transição entre esses pontos e os locais de hospedagem, mas as autoridades garantem estar preparadas. Por outro lado, vai se perder a espontaneidade das manifestações nas ruas, tão comuns em outros mundiais.

MULHERES Outra preocupação que catarianos garantem que ocidentais não precisam ter é quanto às restrições impostas ao gênero feminino. Uso de burca, véu ou outro paramento na cabeça ou rosto é facultativo no país.

Até mesmo o uso de biquíni será permitido. Mais uma vez, em locais determinados antecipadamente. “Como em qualquer outro país, só exigimos a observância da lei. É bom ressaltar que respeitamos as liberdades individuais. Nenhuma mulher é obrigada a adotar conduta de vestimenta, a não ser que em respeito às tradições familiares.”

Para comprovar as palavras do porta-voz, a gerente de educação e engajamento esportivo do COL, Mead Al Emadi, se apresenta como exemplo de quem pode ter liberdade no Catar. “Nosso governo estimula o empoderamento feminino, a igualdade de gêneros. Tanto que 40% das pessoas envolvidas com futebol no Catar são mulheres” afirma ela.

Al Emadi usa véu durante a entrevista, mas faz questão de ressaltar que isso é escolha pessoal. E chama uma amiga para provar o que está dizendo. Moza Al-Muhannadi é gerente de marketing da empresa de telecomunicações do Catar e usa calças jeans, mas sem deixar de cobrir a cabeça.

“O que está ocorrendo na Rússia é um exemplo para nós. Muita gente tinha medo, preconceito sobre o que iria encontrar aqui. Mas tudo correu muito bem. É isso que queremos. A Copa do Mundo serve, também, para mudar a percepção do mundo das pessoas”, diz Al Emadi.

Tomara. Pois durante as visitas da reportagem à estrutura montada no Paque Gorky, o principal de Moscou, a presença das mulheres foi quase nula. Entre quem cantava e tocava, por exemplo, só havia homens. Nas barracas montadas para mostrar artesanato, tempero e arte, também.

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