Rivais históricos em jogos decisivos, Cruzeiro e Flamengo iniciam mata-mata das oitavas na Libertadores


Setenta e oito dias depois de ganhar do Racing por 2 a 1, no Mineirão, pela última rodada do Grupo 5, o Cruzeiro volta a campo na Copa Libertadores. Nesta quarta-feira, às 21h45, o adversário é o Flamengo, no Maracanã, pelo jogo de ida das oitavas de final. Acostumados a duelos pela Copa do Brasil, cariocas e mineiros medem forças pela primeira vez pela maior competição da América do Sul. Será também a estreia da Raposa no grande palco do futebol brasileiro em jogos de Libertadores. Palco que, por sinal, traz boas lembranças aos cruzeirenses, principalmente em confrontos contra o rubro-negro.

Em três de seus cinco títulos da Copa do Brasil, o Cruzeiro teve o Flamengo no caminho. Em 1996, pela semifinal, o jogo de ida foi disputado no Maracanã, diante de 33 mil torcedores, no dia 28 de maio. Sávio, aos 44min do primeiro tempo, livrou-se das marcações de Gélson e Marcos Teixeira e chutou rasteiro no canto direito de Dida, abrindo o placar: 1 a 0. Na etapa final, o goleiro cruzeirense fez três defesas difíceis e evitou o segundo gol do Fla. O Cruzeiro também criou boas oportunidades e aproveitou uma delas aos 9min da etapa final, quando o goleiro Roger deu rebote em chute de Edmundo, e Cleison completou de carrinho: 1 a 1. Na volta, em 5 de junho, o Mineirão recebeu mais de 84 mil torcedores, que assistiram ao empate por 0 a 0 benéfico ao grupo orientado pelo técnico Levir Culpi, classificado para a decisão em função do gol qualificado como visitante. Na final, o Cruzeiro foi campeão em cima do Palmeiras, com empate por 1 a 1 em BH e vitória por 2 a 1 em São Paulo. Como consequência a essa conquista, a Raposa disputou a Libertadores de 1997 e também levantou o troféu.
Em 2003, o elenco espetacular treinado por Vanderlei Luxemburgo e liderado dentro de campo pelo armador Alex não teve dificuldades contra o Flamengo na decisão da Copa do Brasil. No primeiro confronto, em 8 de junho, o camisa 10 recebeu assistência de Deivid, aos 30min do segundo tempo, e precisou de apenas uma letra para silenciar os mais de 73 mil flamenguistas no Maracanã. O Fla, na base do abafa, empatou aos 47min, com o atacante Fernando Baiano. Mas nada que abalasse o Cruzeiro. Três dias depois, numa noite de quarta-feira (11/6), o time celeste já vencia por 3 a 0 com meia hora, para alegria de quase 80 mil torcedores no Mineirão. Com três assistências de Alex, os atacantes Deivid e Aristizábal e o zagueiro Luisão marcaram de cabeça. No segundo tempo, Fernando Baiano anotou o tento de honra do Flamengo: 3 a 1.
Já em 2017, também pela finalíssima da Copa do Brasil, Cruzeiro e Flamengo fizeram dois jogos acirrados e sem tantas finalizações. Um gol de Lucas Paquetá, em posição de impedimento, colocou os cariocas na frente no Maracanã, aos 30min do segundo tempo. Os mineiros empataram aos 38min, depois de rebatida do goleiro Thiago em chute de Hudson, e conclusão de Arrascaeta, livre de marcação. Vinte dias depois, em 27 de setembro, o reencontro no Mineirão foi acompanhado por mais de 61 mil torcedores e terminou empatado por 0 a 0. Como não havia a regra do gol qualificado para visitantes na decisão, o título foi decidido nos pênaltis. O Cruzeiro acertou todas as cobranças, com Henrique, Leo, Hudson, Diogo Barbosa e Thiago Neves. O Flamengo marcou com Guerrero, Juan e Trauco, porém viu Fábio defender a cobrança de Diego. A vitória por 5 a 3 nas penalidades garantiu o penta ao time cinco estrelas e deu ao técnico Mano Menezes um título importante depois de oito anos – ele havia faturado a Copa do Brasil de 2009, pelo Corinthians.
O Flamengo também teve seus momentos de êxito quando levou a melhor sobre o Cruzeiro em mata-matas. Na Copa dos Campeões de 2001, torneio que assegurava vaga na Libertadores do ano seguinte, passou pela Raposa na semifinal e garantiu a taça ao bater o São Paulo na decisão. Já na Copa do Brasil de 2013, eliminou os mineiros nas oitavas de final e caminhou até o título, vencendo também Botafogo, Goiás e Atlético-PR. O único fracasso ocorreu na edição de 1995 da Copa do Brasil, na qual o Fla ganhou do Cruzeiro nas quartas de final, porém caiu diante do Grêmio nas semifinais.
Diante do Flamengo, segundo adversário fora de Minas Gerais que mais enfrentou na história (o primeiro é o Vasco, com 96 jogos), o Cruzeiro jogou 91 vezes, com 34 vitórias, 26 empates e 31 derrotas. Foram 115 gols do escrete azul, contra 119 do rubro-negro. Tostão, ídolo celeste nas décadas de 1960 e 1970, é quem mais balançou a rede do Urubu: 4 gols.
Mistério nas estratégias
Tanto Mano Menezes, técnico do Cruzeiro, quanto Maurício Barbieri, comandante do Flamengo, fecharam os treinamentos de suas equipes às vésperas do duelo decisivo. O mistério não é nem relação às escalações, mas sim nas estratégias. Por jogar fora de casa, a Raposa tende a adotar uma postura recuada, à espera de uma chance de contragolpear e balançar a rede como visitante. Por sua vez, o Fla, empurrado por sua torcida, deverá assumir o controle da posse de bola.
Em seu jogo anterior de mata-mata, o Cruzeiro foi até a Vila Belmiro e conseguiu um bom resultado contra o Santos: vitória por 1 a 0, com gol de Raniel aos 36min do segundo tempo. Nessa partida, Mano Menezes escolheu Lucas Romero para ser o lateral-direito e deixou Edilson, oriundo da posição, no banco de reservas. A justificativa foi atribuída à maior facilidade do argentino, que é volante, na marcação. A estratégia deu certo, pois Romero conseguiu neutralizar Bruno Henrique, um dos principais jogadores do ataque santista.
Na Libertadores, Mano não poderá colocar Romero, que cumprirá suspensão pelo acúmulo de três cartões amarelos na fase de grupos. Edílson, conhecido por ser um lateral apoiador e com qualidade nos chutes de longa distância, vai para o jogo. A esperança é que ele repita a performance apresentada pelo Grêmio campeão da competição em 2017. Na campanha, Edilson fez nove partidas (seis vitórias, dois empates e uma derrota) e marcou um gol em cobrança de falta, no triunfo por 3 a 0 sobre o Barcelona de Guayaquil-EQU, pelo duelo de ida das semifinais.

No ataque, as opções são Hernán Barcos, autor de 26 gols em competições sul-americanas (sete na Libertadores, 17 na Copa Sul-Americana e dois pela Recopa), e o jovem Raniel, de 22 anos. Mano Menezes optará pela experiência do argentino ou apostará no poder decisivo do camisa 17? A resposta só será oficializada uma hora e meia antes do jogo.

Destaque do Cruzeiro no período pós-Copa do Mundo e artilheiro do elenco na temporada, com 10 gols, o meia Arrascaeta comentou as pretensões da equipe para esta quarta-feira. “Sem dúvida que gera uma expectativa muito grande, porque ganhar a Copa Libertadores pode significar muito para nós e para o torcedor celeste. O ânimo fica lá em cima para jogos como este. Precisamos manter a calma”, disse o camisa 10. “Tentaremos minimizar a característica positiva do adversário, que tem jogadores que se movimentam muito. E vamos, obviamente, criar as chances para sair de lá com o resultado positivo”, acrescentou.

O Flamengo também tem um desfalque importante. O meia Lucas Paquetá, que contabiliza sete gols em 35 partidas na temporada e é cotado para defender a Seleção Brasileira, cumprirá suspensão pelo acúmulo do terceiro cartão amarelo. Em seu lugar, o técnico Maurício Barbieri tem duas opções: os volantes Jean Lucas e Piris da Motta – este último adquirido recentemente ao San Lorenzo-ARG por US$ 3 milhões e apresentado pela diretoria nessa segunda-feira.
“Paquetá tem características únicas, que são dele, e nosso papel é encontrar alguém que possa cumprir a função e agregar outras coisas. O Paquetá tem muitas qualidades individuais e quem entrar terá outras que devemos explorar. Nosso papel é identificar isso. O Jean é uma possibilidade, assim como o Piris. Não vamos entrar pensando em 0 a 0. Vamos buscar a vitória para impor o mando de campo, que o apoio da torcida prevaleça e possamos adquirir uma vantagem importante para o jogo da volta”, afirmou Barbieri.
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