Consumo inteligente: na pandemia, compras de itens para casa demandam atenção extra na pesquisa


Neusa Silva adquiriu quatro produtos apenas em abril: “Neste isolamento social, tive mais tempo de pensar no que estava precisando” (Imagem: Maurício Vieira)

O fechamento das lojas físicas e o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus levaram a uma corrida às vendas online. Praticamente todos os segmentos tiveram aumentos expressivos até agora, com destaque para produtos de supermercados, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, artigos esportivos e móveis, tudo buscando principalmente a ampliação do conforto nos lares.

Apenas entre a segunda quinzena de maio e a primeira de junho, levantamento da Synapcom, empresa especializada na oferta de soluções Full Commerce, apontou incremento de 60% no comércio pela internet.

No entanto, nessa mudança de hábito, que deve se tornar uma tendência a partir da disseminação da Covid-19, especialistas alertam que o consumidor deve ficar muito atento ao valor do frete, que pode fazer com que o produto saia mais caro do que em lojas físicas, além do parcelamento a perder de vista, que tende a virar uma bola-de-neve somado a outras aquisições feitas neste período de incertezas. O consumidor deve também ampliar as pesquisas, pois os preços de um mesmo produto podem ter variações superiores a 30% no mercado.

A empresária Márcia Machado, que adquiriu pela internet um sofá e uma cama para o quarto dos filhos, optou por retirar os produtos na loja física em Belo Horizonte para ficar livre de uma taxa de entrega de quase R$ 1.500.

“Como a gente tem caminhonete, buscamos os produtos. Esta cama que adquiri, pelas medidas, estava perfeita, mas quando coloquei no quarto, ficou enorme. Então, algumas coisas nas compras online surpreendem a gente negativamente”, conta.

Limpeza de casa
Já funcionária pública Neusa Silva Alvim gastou somente em abril mais de R$ 400, sem levar em consideração os fretes, para a aquisição de quatro produtos pela internet, todos voltados à maior eficiência na tarefa de limpar a casa. Ela comprou neste período um balde limpador multiuso, um rodo-vassoura de microfibra, um spray vassoura mágica e um balde 360 graus.

“Neste isolamento social, tive mais tempo para pensar no que estava precisando. Os produtos vão facilitar a minha vida, porque são muito práticos e vão deixar a casa mais organizada”, afirmou Neusa Silva, lembrando que pesquisou apenas em dois sites, mas que não deu muita importância ao valor do frete, valorizando mais a qualidade dos produtos.

A professora de economia e especialista em finanças Vaníria Ferrari Pinheiro Chaves avalia que neste período de isolamento social, as pessoas voltaram mais a atenção para os objetivos de casa, principalmente eletrodomésticos, e buscaram mais conforto. “Muitas pessoas dispensaram a empregada e começaram a fazer o serviço, a sentir falta de alguns produtos. São equipamentos e produtos que podem facilitar a vida delas. Outra coisa que aumentou muito foi a venda de celular e computador, por causa do home office e da necessidade de reuniões em plataformas online”, conta.

Comparações e matemática podem gerar boas aquisições

Com as facilidades do e-commerce, a especialista em finanças Vaníria Ferrari Pinheiro Chaves alerta que o consumidor tem que tomar alguns cuidados. “Em relação ao custo do frete, ele deve sempre levar em conta o valor do produto com a taxa de envio, porque às vezes o item mais caro não tem custo de entrega e acaba ficando mais atraente do que aquele com a taxa”, salienta.

Vaníria lembra também que as pessoas só devem buscar o parcelamento se não tiverem outra alternativa. “Às vezes, o site coloca em dez, doze vezes, mas não fala quanto é o produto com juros ou sem eles. Outro ponto é não comprar pensando apenas nas parcelas, porque a gente tem a sensação que elas cabem no bolso, mas vão acumulando com um série de outras compras”, aconselha.

Diferença de valores
Nas compras on-line, a pesquisa também é de fundamental importância. Para se ter ideia, um aparelho celular Smarthphone Samsung Galaxy A30s-A307G pode ser encontrado na internet por preços que variam de R$ 1.301,07 a R$1.847,90 –uma diferença de R$546,83.

 

Fraudes disparam e atrasos em entregas aumentam a cada dia

Neste período de maior vulnerabilidade dos consumidores, houve uma proliferação do volume de golpes aplicados via redes sociais. “Estamos vendo vários sites falsos sendo encaminhados por meio das redes sociais, por e-mail e pelo WhatsApp, oferecendo produtos com valores atrativos. Preços mirabolantes, vantagens excessivas, o consumidor deve desconfiar”, alerta o coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcelo Barbosa, lembrando que as pessoas devem fugir também de empresas onde as formas de pagamento são boletos ou transferências bancárias.

Segundo ele, neste momento de pandemia, os consumidores estão enfrentando grande dificuldades para contactar as empresas.
“Elas demoram a responder e-mail, o call center está deixando a desejar. Nesses casos, as pessoas que estão se sentindo prejudicadas devem formalizar a reclamação no site consumidor.gov.br”, explica.

Muitas empresas têm atrasado a entrega devido ao grande volume de compras pela internet. Neste caso, segundo Marcelo Barbosa, o consumidor tem o direito de desistir e ter o dinheiro de volta, caso o produto não chegue dentro da data combinada.

O consumidor também tem o direito de desistir da compra no prazo de 7 dias após a entrega do produto. No entanto, segundo o coordenador do Procon, a Lei 14.010, de junho deste ano, alterou o artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor.

Desta forma, até o dia 30 de outubro, não há a aplicação desse prazo nos casos de entrega domiciliar (delivery) de produtos perecíveis ou de consumo imediato e de medicamentos.

Sites confiáveis
A advogada Vitória Lage Guerra, do escritório Bernardes & Advogados Associados, alerta também que o consumidor deve verificar primeiramente a segurança do site e só clicar em links confiáveis.

“As pessoas não devem passar qualquer tipo de senha por telefone ou internet, é um dado pessoal e não pode ser enviado a ninguém, em nenhuma situação. Devem negar também pedidos de dados pessoais via e-mail e jamais enviar foto de cartão de crédito”, aconselha a advogada.

 

Faturamento no e-commerce cresceu quase 60% até maio

Nos cinco primeiros meses deste ano, o faturamento do e-commerce cresceu 56,8% e atingiu R$ 41,92 bilhões, segundo levantamento realizado pelo Movimento Compre&Confie em parceria com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Houve uma expansão de 67% no número de pedidos, passando de R$ 63,4 milhões para R$ 105,06 milhões.

As maiores altas foram registradas nos segmentos de beleza e perfumaria, que apuraram alta de 107,4%, móveis (94,4%) e eletroportáteis (85,7%).

Os eletrônicos cresceram 68,4%, seguidos por produtos de esporte e lazer (66,8%), telefonia (52,2%), eletrodomésticos (51%), informática (46,7%) e moda e acessório (34,9%).

Segundo pesquisa realizada pela ABComm em parceria com a Konduto, de março para abril os pedidos em alguns segmentos chegaram quase a dobrar, como o de eletrodomésticos (96,66%) e cosméticos (88,02%).

Em levantamento realizado no período um pouco anterior e já durante a fase de maior intensidade da pandemia, de 1º de março a 20 de junho, a variação dos pedidos nos supermercados cresceram 457% em relação a meses anteriores, seguida por artigos esportivos (223,11%), eletrodomésticos (169%), moda (166%), eletrônicos (109%) e móveis (97%).

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