Dia dos Namorados na pandemia exige ajustes de consumidores e negócios


Depois da Páscoa e do domingo dedicado às mães, mais uma data tradicional será celebrada em meio à pandemia de Covid-19: o Dia dos Namorados. Tradicionalmente sinônimo de procura elevada em bares, restaurantes e motéis e capaz de aquecer vários setores do comércio, o 12 de junho deste ano chega marcado pelas restrições de circulação e funcionamento que vão impedir boa parte dos programas românticos. Um teste para a criatividade de quem faz questão de não deixar passar a ocasião em branco; mas também para os setores que normalmente turbinam os lucros no período.

Um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG) revela que a pretensão de compra para a data em Belo Horizonte é a menor nos cinco anos de série histórica: 27,1%, ainda que com um tíquete médio superior ao de 2019). Reflexo da combinação entre o período de comércio fechado e das consequências econômicas da pandemia no bolso do consumidor.

O representante comercial Gabriel Côrtes Drumond se ajustou aos novos tempos e apostou nas compras online para não deixar a data passar em branco. Optou inclusive por uma entrega expressa para garantir que o presente da namorada, Sophia, chegue a tempo, mas já pensa num plano B em caso de atraso. “Se não chegar vou escrever uma carta explicando, tenho certeza de que ela entenderá. Vamos completar quatro anos juntos e por isso fiz questão de presenteá-la. Além disso, vou preparar um jantar a luz de velas na minha casa. Nós estamos vivendo tempos muito difíceis, mas o importante é contornar a situação e não deixar de celebrar”, explica.

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) apostou em campanha nas redes sociais, especialmente por meio do Clube de Vantagens CDL Em Casa, criado para ajudar a conectar lojas e consumidores durante a pandemia. A entidade se valeu do slogan “O amor é lindo e demonstrar é preciso”. A expectativa é de que a reabertura dos negócios de setores como joalheria, artigos esportivos, plantas e flores e arte e decoração na capital a partir de segunda-feira ajude a turbinar as vendas na reta final.

Os moteis que se mantêm em funcionamento também se prepararam para receber casais ao longo da semana. Nacionalmente, a Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis) optou por não fazer a tradicional campanha Love Week, já que em alguns locais os estabelecimentos não podem abrir as portas. Mas em BH a ordem é oferecer todo o tipo de recurso de proteção para garantir apenas boas lembranças da noite.

Uma rede de motéis com casas na capital, Betim e Contagem reforçou as ações de higienização das suítes, inclusive com técnicas hospitalares, como a oxi-sanitização (limpeza do ar condicionado com ozônio). Além disso, oferece álcool gel em todas as dependências e até mesmo na chegada, em sachês.

Capricho para criar em casa um ambiente à altura

Ainda sem poder abrir as portas fisicamente, o setor de alimentação se reinventou para não perder a chance de lucrar com a data. E aposta na capacidade de levar para as casas o ambiente romântico sob a forma de menus e criações especiais. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Minas, Ricardo Rodrigues, diz que 90 estabelecimentos associados vão atuar na data em Belo Horizonte. Ele acredita que os números sejam iguais ou mesmo superiores aos registrados no dia das mães que, se não repetiram os habituais da data, trouxeram ânimo num momento difícil.

“Ao lado dos dias das mães e dos pais, é uma das nossas principais datas. Da nossa parte, não adianta espernear, a situação é essa, e por meio do delivery estamos conseguindo atender satisfatoriamente o público. A expectativa é boa, teremos muitas lives especiais de artistas no dia 12 para ajudar no clima. É importante não deixar de comemorar, não faltam opções, à espera de podermos receber novamente”, destaca.

Criatividade e capacidade de adaptação fizeram com que várias casas se desdobrassem para oferecer produtos à altura da celebração do amor. A chef patissier Elisa Dayrell, da Espetacular Doceria, precisou trazer embalagens de Goiânia para adaptar às necessidades do delivery. E oferece aos apaixonados opções como caixas de luxo “para ele” e “para ela”, que incluem um pequeno buquê de flores na versão feminina; uma caixa de bombons com o nome de “Le Cinq Sens” (os cinco sentidos), pensada para explorar sensorialmente a dois; e a “Tarte Amour” (Torta Amor). “Pensamos em tudo com muito carinho para que as pessoas possam aproveitar a data de uma forma doce”, diz.

O restaurante japonês Kanpai não quis ficar apenas no menu. E vai ajudar os namorados a compor, em casa, o ambiente romântico. Os combos “Conquiste seu Mozão” e “Meu Crush da Vida” trazem, além de entrada, das peças de sushi, sashimi, maki e uramaki e de vinho e sobremesa, jogos americanos temáticos com mensagens divertidas e velas. Não falta nem opção para quem vai passar a data sozinho: o combo ‘sozinho sim, solteiro nunca’, que pode ajudar a embalar a conversa (virtual) com os amigos.

O chef Renzo Sudário, do GomeZ, criou duas opções de jantar com vinho, entrada, sobremesa e, de quebra, arranjo floral e biscoitos artesanais. Os pratos são entregues para finalização em casa, com uma cartilha explicativa. “Nós precisamos mudar a composição de nossos pratos devido ao delivery, para que tudo chegue bem também visualmente. A ideia é levar um pouco do ambiente do restaurante para casa, para que as pessoas tenham a experiência mais agradável possível. É importante que as pessoas não deixem de celebrar nesse momento difícil”.

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