Homem preto morre depois de ser espancado por seguranças em supermercado


A polícia de Porto Alegre (RS) investiga a morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, após espancamento por dois seguranças de uma loja do do supermercado Carrefour na zona norte da capital gaúcha. Os dois homens acusados de agressão foram presos em flagrante por homicídio. A polícia passou a madrugada ouvindo testemunhas do espancamento e morte.

Vídeos na internet ( todos com restrição de idade no youtube) mostram que o espancamento foi em frente à loja e que socorristas tentaram salvar o homem, conhecido como Beto.

Beto morreu às vésperas do Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira (20.nov) em referência à morte de Zumbi, o líder do Quilombo dos Palmares, localizado entre Alagoas e Pernambuco.

A loja do Carrefour amanheceu com o seguinte comunicado: “O Carrefour informa que esta loja está fechada por conta do lamentável ocorrido ontem, dia 19 de novembro de 2020. O Carrefour está tomando todas as providências para esclarecer e punir os responsáveis pelo caso”.


Loja do Carrefour amanheceu fechada e com comunicado aos clientes sobre o episódio ocorrido. Foto: Lucas Abati/SBT

Organizações sociais organizam um protesto na frente do supermercado nesta sexta-feira, 20, às 18h.

O espancamento aconteceu após uma briga da vítima com uma funcionária do supermercado. Ela chamou os seguranças, que levaram Beto para fora e teriam espancado o homem até a morte. Milena Borges Alves, esposa da vítima, falou ao SBT que o marido era uma pessoa brincalhona e trabalhadora. Ela presenciou o crime. “Aí ele gritou mulher me ajuda. E aí quando eu cheguei me empurraram e mesmo depois desacordado continuaram com ele sendo imobilizado. Depois de morto continuando sendo imobilizado, disse abalada. Algumas pessoas ali falaram nas redes sociais porque ninguém fez nada? Eu vou explicar porque ninguém fez nada. Não era só aqueles seguranças estavam agredindo. Mas cerca de 8 a 12 [seguranças] estavam fora da exposição da câmera, segurando a população para não intervir nas agressões”, contou.

O Carrefour, por meio de sua assessoria de imprensa, definiu a morte como brutal e anunciou que romperá o contrato com a empresa responsável pelos seguranças. Informou também que vai demitir o funcionário responsável pela loja na hora do ocorrido.


Nofa oficial do Carrefour. Foto: Reprodução

Assassinatos de negros no Brasil

Dados divulgados em agosto deste ano pelo Atlas da Violência 2020 indicam que os assassinatos de negros aumentaram 11,5% em dez anos, enquanto os de não negros caíram 12,9% no mesmo período. Entre os negros, a taxa de homicídios no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018.

Os estados que concentraram as maiores taxas de homicídios contra pessoas negras estão nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para Roraima (87,5 mortos para cada 100 mil habitantes), seguido por Rio Grande do Norte (71,6), Ceará (69,5), Sergipe (59,4) e Amapá (58,3).

Ao todo, os negros somam 75,9% dos brasileiros assassinados na década analisada, ainda conforme os números mostrados. Na comparação entre as taxas de homicídio de 2018, o Atlas aponta que para cada indivíduo não negro morto, 2,7 negros foram assassinados.

Em 2018, os homicídios foram a principal causa das mortes da juventude masculina brasileira, representando 55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos, 52,3% daqueles entre 20 e 24 anos e 43,7% dos que estão entre 25 e 29 anos.

No mesmo ano, 4.519 mulheres foram mortas no Brasil, o que significa que uma mulher morreu assassinada a cada duas horas no país – 68% delas são negras. A taxa é praticamente o dobro na comparação com não negras.

SBT