Eduardo Bolsonaro organiza “guerra cultural” para promover a direita


O resultado das eleições municipais deste ano só comprovou o que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e dezenas de aliados já sabiam: os conservadores brasileiros estão desorganizados. Se em 2018 o então candidato a presidente Jair Bolsonaro conseguiu aglutinar direitistas em torno de sua candidatura e rebocar consigo dezenas de governadores, deputados e senadores, neste ano o saldo eleitoral de prefeitos e vereadores de direita pelo Brasil não teve o bolsonarismo explícito como fio condutor.

“Poderíamos ser mais organizados, poderíamos ter mais contato uns com os outros. Por vezes, afastar atritos entre pessoas que, mesmo sendo do mesmo grupo ideológico, acabaram tendo atritos pela competição eleitoral. Agora, onde estavam os bolsonaristas? Em quais partidos eles estavam? Estavam em PRTB, PRB, PL. Então, estavam pulverizados”, disse o filho do presidente em entrevista exclusiva ao SBT News.

A fim de ocupar o vácuo de organização da direita, criar unidade e ser protagonista em 2022 e também para o longo prazo, Eduardo traçou um plano para o ano que vem com duas frentes: 1) Conseguir um partido político do qual Bolsonaro tenha 100% do controle até o primeiro semestre de 2021; 2) Profissionalizar o que ele chama de “guerra cultural”.

Um partido para chamar de seu

Ele diz não ter desistido da criação do partido Aliança pelo Brasil. Tampouco quer que os entusiastas da futura legenda se desmobilizem. Mas pelo prazo limite que tem em mente – primeiro semestre do ano que vem – e diante de tantas burocracias, sabe que é difícil lançar bolsonaristas em 2022 pelo Aliança.

“Falta-nos, sim, um partido político. A necessidade está para além das questões do Congresso Nacional. Se nós tivermos um partido eleitoral para chamar de nosso e colocar ali nossos candidatos, certamente o resultado será melhor (que em 2020). A gente viu pessoas que não foram eleitas nesse pleito porque o partido delas não conseguiu chegar ao mínimo necessário para eleger uma cadeira. Por ter pulverizado cada um em um partido, acabou que não tivemos esse sucesso. Então, é essa organização também que falta a nós”

Com o Aliança fazendo água, ao menos por enquanto, as negociações com partidos já existentes seguem frenéticas: Republicanos, Patriota, PTB… Mas os bolsonaristas sonham em ser abarcados por um partido sobre o qual tenham total controle: que possam mudar o nome, o estatuto, filtrar os candidatos. Tem que se tornar um partido de direita, conservador, liberal na economia e sem negociar com progressistas. E, ainda, que não abra mão de disputar eleições, mesmo que seja para perder.

Eduardo explica a lógica: “O político tende a apoiar aquele que vai ganhar. Isso é secundário. A gente tem que fazer bonito nos debates, defender nossas pautas, levar nossas mensagens para a sociedade. Se for eleito, ótimo, excelente. Se não, a luta continua. A gente está numa maratona”.

Mas por que a definição de um partido tem que acontecer no primeiro semestre do ano que vem? O deputado explica que não quer repetir o erro do passado, quando a família Bolsonaro foi para o PSL. “Porque assim, teríamos tempo suficiente para ver quem são os líderes conservadores em cada estado e conseguir montar uma plataforma forte e turbinada. Todas as pessoas que têm sucesso numa eleição trabalham muito antes no sentido de fazer conhecida suas opiniões, participar de eventos, de fazer conexões com pessoas.”

E continua: “Por que tivemos tantos traíras na eleição de 2018? Porque só tivemos um mês para montar o partido inteiro. Ficou a cargo, praticamente, do ex-ministro falecido (Gustavo) Bebianno identificar em nível nacional essas pessoas, colocar para dentro do partido e candidatar. Houve praticamente zero filtro”. Ele lembrou que em fevereiro, Jair Bolsonaro saiu do Patriota para o PSL e em março já estava se encerrando a janela para quem quisesse se candidatar. “É isso que a gente quer evitar. Temos que ter um filtro melhor, compliance melhor, ver quem é quem, saber quem são os nomes, levar para conhecimento do presidente para ele aprovar e aí a gente vai construindo a nossa base para 2022. Com uma organização que nós não conseguimos ter este ano.”

Guerra cultural

Os bolsonaristas costumam criticar o que chamam de “guerra cultural” da esquerda que, segundo parte deles diz, teria conseguido “infiltrar” o pensamento esquerdista em escolas, universidades e na “grande mídia” ano após ano. Na tentativa de fazer um contraponto, Eduardo e o advogado Sergio Santana estão criando o Instituto Conservador Liberal, que já tem CNPJ e conta bancária.

A ideia é viajar por todo Brasil identificando e preparando novas lideranças de direita. No Instituto, serão promovidos cursos de introdução e aperfeiçoamento aos ideias conservadores, a fim de multiplicar os direitistas do Brasil e tentar unificar os discursos. Livros e filmes também estão no radar. “Vamos editar livros, talvez dar notoriedade a filmes que venham defender a mesma visão de mundo que nós. É entrar forte nessa guerra cultural através do Instituto Conservador Liberal”, adiantou o deputado.

Para dar ainda mais peso, Eduardo quer firmar uma parceria com o CPAC (Conservative Political Action Conference), um evento político anual que reúne conservadores americanos, promovido pela ACU (American Conservative Union). Já participaram do CPAC líderes como o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan e o atual, Donald Trump. Ele diz que o lançamento oficial do instituto será “em breve”.

Ao ser perguntado se o escritor Olavo de Carvalho vai participar do instituto, ele respondeu: “Seria uma grande honra para nós. Ele é, para mim, o pensador expoente disso tudo que a gente está vivendo aqui de conservadorismo, direita. Eu escuto muito o Olavo e seria um prazer. Eu sei que ele não virá ao Brasil para inauguração do Instituto, mas os seus livros sempre serão um norte para nós. Mesmo depois que morrer, ele vai ser muito lembrado aqui por nós”.

Hamilton Mourão é “mais ou menos” de direita

Para Eduardo Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton Mourão não é exatamente de direita. Durante a entrevista ao SBT NEWS, o deputado foi perguntado sobre o combate ao racismo no país ter se tornado, de certa forma, uma bandeira/ da esquerda e que isso se reforça em momentos como quando “uma pessoa importante da direita” diz que racismo não existe no Brasil. O deputado quis saber quem seria essa pessoa negacionista de direita, porque, segundo ele, Bolsonaro “nunca negou a questão do racismo”.

Ao ouvir que a pergunta tratava sobre Hamilton Mourão, ele respondeu: “Calma aí, calma aí, calma aí, calma aí. Mais ou menos. Ele já deu declarações de que ‘graças a Deus na Venezuela não existem armas porque se os cidadãos tivessem armas estariam em uma guerra civil aceitando que é melhor ser submisso a um governo ditatorial do que honrar as suas liberdades’. Ele já disse que aborto é uma pauta que depende das mulheres. Eu tô aqui parando em duas pautas muito caras aos conservadores. É difícil você traçar a definição do que é de direita e do que é esquerda (…) Mas eu não vejo o Mourão como expoente desse movimento que o Brasil está experimentando. Eu vejo ele como um vice-presidente da República, com um papel dentro do governo, como o chefe do Conselho da Amazônia, aí tudo bem”.

SBT