Lula reage à tarifa de 50% imposta por Trump e promete resposta com base na reciprocidade


Presidente afirma que o Brasil não se submeterá a pressões externas e reforça que cabe exclusivamente à Justiça do país julgar os atos golpistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu nesta quarta-feira (9) à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados ao país a partir de 1º de agosto. A medida, classificada por Trump como parte de um esforço para corrigir “injustiças comerciais”, foi alvo de críticas do governo brasileiro, que anunciou que responderá com medidas equivalentes.

Em publicação feita no X (antigo Twitter), Lula declarou que o Brasil não aceitará ações unilaterais sem reagir à altura. “Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica. A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”, escreveu o presidente.

Lula contesta justificativa de Trump

O chefe do Executivo brasileiro rebateu o argumento de Trump sobre supostos prejuízos comerciais dos EUA em relação ao Brasil. Lula afirmou que, ao contrário do que alega o presidente norte-americano, dados oficiais dos EUA mostram um superávit acumulado de aproximadamente US$ 410 bilhões em favor dos americanos nos últimos 15 anos.

Além disso, Lula reafirmou que o Brasil é um país soberano e que não aceitará pressões externas. Ele também destacou que o processo judicial contra os envolvidos na tentativa de golpe após as eleições de 2022 é de responsabilidade exclusiva da Justiça brasileira. “O Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém”, afirmou.

Reunião de emergência no governo

A reação do governo federal veio após uma reunião emergencial convocada por Lula, com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e de outras lideranças. O objetivo do encontro foi discutir os impactos e possíveis respostas à nova tarifa imposta pelos Estados Unidos.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também se pronunciou nas redes sociais após o encontro. Ela responsabilizou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela situação e afirmou que as declarações dele e de seus aliados no exterior contribuíram para a decisão de Trump.

“O projeto do Lula é taxar os super ricos, o de Bolsonaro é taxar o Brasil! As mentiras que ele e a família espalharam sobre o Brasil e o STF serviram de pretexto para Trump taxar as exportações brasileiras”, escreveu Gleisi.

Ela também sugeriu que a medida está relacionada ao temor dos Estados Unidos diante do fortalecimento das relações entre os países do Sul Global, em especial o papel do Brasil nos BRICS. “Não seremos reféns de Trump nem de Bolsonaro”, concluiu.

Carta de Trump liga tarifa a julgamento de Bolsonaro

A decisão de Trump foi oficializada por meio de carta enviada ao presidente Lula. No documento, o líder americano justificou a taxação como uma resposta a supostas violações de direitos e liberdades no Brasil, além de afirmar que o julgamento de Bolsonaro seria uma “vergonha internacional”.

Segundo Trump, o processo que investiga o ex-presidente brasileiro por tentativa de golpe é uma “caça às bruxas” e representa uma interferência indevida no processo democrático. Ele também criticou decisões do Supremo Tribunal Federal, alegando que o órgão emitiu “centenas de ordens de censura secretas e ilegais” contra redes sociais americanas.

Trump ainda afirmou que as ações do Brasil representam um “ataque à liberdade de expressão” e que a tarifa de 50% é uma forma de proteger os interesses norte-americanos diante de medidas que, segundo ele, comprometem os princípios democráticos.