Quando o extraordinário cansa


Por João Victor Constantino| O primeiro derby paulista da história da Copa do Brasil acontece em uma oitavas de final. Com 138 anos de história, muitas polêmicas envolvem o clássico, inclusive as de arbitragem. Um lance em específico, foi o grande assunto da noite, e na coletiva pós jogo e não foi o 15º gol do Memphis com a camisa do Corinthians.

Em uma bola parada, Maurício recebeu um passe de cabeça de Gustavo Gomez, e marcou com um bonito chute, o que seria gol de empate do Palmeiras. Um lance tão ajustado, que nem o zoom mais poderoso que a televisão pode fornecer, seria possível ver alguma vantagem clara do zagueiro alviverde sobre Raniele.

O gol foi anulado corretamente, e a derrota do Verdão foi merecida por aquilo que jogou a equipe. De maneira injusta, o revés será justificada por um lance de posição irregular, mas o que está verdadeiramente errado e deveria ser questionado, é o valor astronômico gasto pela equipe em transferências que não encantam em nada os olhos de quem assiste aos jogos. Mais de meio bilhão de reais gastos, o jogador mais caro da história do Brasil, o técnico mais vencedor da história do clube e um futebol pífio.

Um técnico extremamente qualificado, copeiro e muito irreverente. Abel Ferreira é polêmico e vencedor, aos mais nostálgicos, é como um resgate daquilo mais característico do futebol nos anos 90. Entretanto, qualificado como é, um profissional desta prateleira deve reconhecer quando o gás acaba. Um estilo de jogar que se tornou amarrado e robotizado, limita aqueles mais dribladores e ousados a cair pelas beiradas de maneira ineficiente. Estilo muito inerente do futebol europeu.

Hoje o time do Palmeiras não tem nenhum craque, não tem uma referência ou jogador desconcertante que levanta o torcedor até do sofá. Uma parcela da culpa vai para a diretoria, que conta com uma receita bilionária, mas opta por gastar o seu patrimônio em atletas menos prestigiados pelo futebol mundial, promessas que não se concretizam e que não estão a altura do desafio que é vestir essa camisa. O contrário do que faz o Flamengo, que vem sendo o grande rival do time de Abel nesta era, que contrata jovens promessas, veteranos consolidados e jogadores de nível seleção.

Até o primeiro semestre deste ano o Alviverde contou com Estevão no seu plantel, um dos jogadores mais promissores do futebol mundial nos últimos anos. O garoto mostrou que era diferente neste um ano e meio, o cara desconcertante, que a torcida ama, mas aquele que deveria sair incontestável, vendido aos europeus para conquistar o velho continente e até pela seleção brilhar, encerra sua passagem com algumas ressalvas e desconfianças de aficionados do esporte. Inclusive a minha.

A maneira de jogar do Abel transformou aquele camisa 10 habilidoso que flutua pelo meio e resolve jogos sozinhos, cujo o Brasil sempre foi referência em produzir, em um ponta que joga invertido, corta pra dentro e bate. Mas não seria justo apenas apontar erros do estilo de jogar do treinador português, Raphael Veiga de coadjuvante, se tornou grande nome desta fase vencedora, transformado em um meia maestro que serve o time. Infelizmente o time é composto por mais 21 atletas, e nem todas as joias serão lapidadas por igual.

É muito fácil resumir o que é o trabalho do ex-lateral-direito no Palestra, em poucas palavras, incrível. Inegavelmente, todos queriam um Abel em seu time, mas é necessário reconhecer que nada é eterno, principalmente, o extraordinário. Uma relação que se tornou desgastante até para a torcida, que viu por exemplo, o Palmeiras ser o único brasileiro a não vencer nenhum europeu na Copa do Mundo de Clubes. Paciência de torcedor é curta e sua cobrança é por resultados, com o time jogando bem ou não.

Tem muita bola para rolar ainda e três competições para serem jogadas, O Abel Ferreira tem a chance de mostrar ao mundo do futebol (mais uma vez) o quão extraordinário ele é, mas até que isso aconteça, a impressão que fica, é a de um treinador que não reconheceu o fim de um ciclo.