Foto: Arquivo pessoal / reprodução
Minutos antes do ataque, o autor entregou à vítima um bilhete com o título de “sentença de morte”
O assassinato da estudante Melissa Campos, de 14 anos, dentro de uma sala de aula em Uberaba (MG), ganhou novos contornos com a revelação da motivação do crime. Segundo a Polícia Civil, o adolescente suspeito confessou que matou a colega por inveja. Em depoimento, ele afirmou que Melissa “simbolizava a alegria que eu não tinha”. O crime foi premeditado e contou com o apoio de um comparsa, também de 14 anos.
Minutos antes do ataque, o autor entregou à vítima um bilhete com o título de “sentença de morte”. Câmeras de segurança registraram o momento em que a garota lê o papel e, sem tempo para reagir, é golpeada diversas vezes com uma faca. Melissa morreu ainda no local. O agressor fugiu, mas foi localizado pela polícia algumas horas depois.
De acordo com o delegado Cyro Moreira, responsável pelo caso, a cena registrada pelas câmeras mostra o jovem se aproximando de Melissa e entregando o bilhete. “Ela foi completamente pega de surpresa. Em questão de segundos, ele começa a atacá-la”, relatou.
Planejamento e participação de outro aluno
As investigações apontam que o crime foi planejado com antecedência. O autor contou com o auxílio de um colega de classe que o ajudou a escolher a vítima e traçar a fuga. Ambos sentavam próximos à garota na sala e chegaram a trocar bilhetes momentos antes do ataque. Em cadernos apreendidos pela polícia, foram encontrados esboços do plano, incluindo detalhes sobre a fuga.
Imagens de segurança mostram ainda o segundo envolvido deixando a sala logo após o crime, seguindo o autor. Ele foi contido por uma funcionária da escola e voltou à sala dizendo que estava procurando o amigo. Segundo a polícia, sua participação foi confirmada durante as investigações.
Crime isolado, sem plano de massacre
Durante coletiva de imprensa, a Polícia Civil e o Ministério Público reforçaram que não há indícios de que os adolescentes planejavam um massacre na escola. Tampouco foi encontrada qualquer lista com possíveis futuras vítimas.
“O que existia era um plano para atacar uma pessoa específica, escolhido no dia. A motivação principal partia do executor, que alegou sentir inveja da vítima e enxergá-la como um símbolo de algo que ele próprio não possuía”, explicou o delegado.
Processo e medidas socioeducativas
Os dois adolescentes foram indiciados por ato infracional análogo a homicídio triplamente qualificado. Eles estão internados provisoriamente sob responsabilidade do Ministério Público. O julgamento ocorrerá nos próximos dias, e, em caso de condenação, poderão cumprir medida socioeducativa de até três anos, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O promotor André Tuma Delbim Ferreira informou que o processo está em fase de instrução, com audiências para ouvir testemunhas e analisar provas. “A internação é a medida mais grave prevista, e é o que provavelmente será aplicado neste caso”, afirmou.
O dia do crime
O ataque aconteceu no dia 8 de maio, dentro da sala de aula. Segundo relatos da Polícia Militar, o agressor se aproximou de Melissa, entregou-lhe um bilhete e, logo em seguida, desferiu três golpes com uma faca. Alunos saíram em desespero para pedir socorro. O pai da adolescente tentou prestar os primeiros socorros antes da chegada do Samu, que apenas pôde constatar a morte da jovem.
Após o crime, o autor deixou o colégio levando sua mochila. Ele foi encontrado pela polícia às margens da AMG-2595. Durante a abordagem, não resistiu e confessou onde havia deixado a faca — cravada em uma árvore próxima. A arma foi recuperada.
O segundo adolescente envolvido foi apreendido dois dias depois, durante o cumprimento de um mandado judicial de busca e apreensão.