Pesquisadores da UFU identificam cavernas em Coromandel


Vestígios descobertos por grupo do Campus Monte Carmelo reforçam tese de que o mar já esteve presente na região

Um grupo de estudos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) está se dedicando a estudar, preservar, conservar e promover o patrimônio espeleológico brasileiro (inclui grutas, lapas, cavernas, dolinas, sumidouros, lápias entre outros), com ênfase na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais. É o Grupo Alto Paranaíba de Espeleologia (Gape), constituído atualmente por alunos do curso de graduação em Geologia, sediado no Campus Monte Carmelo.

Criado em 2016, o grupo atua especificamente na caracterização, conservação e difusão do patrimônio espeleológico de Coromandel, principal município da região, quando considerada a quantidade de estruturas de relevo cársticos (que ocorrem com a dissolução das rochas). No território, já foram registradas 16 dessas estruturas, entre grutas, lapas, cavernas e dolinas.

Em 2020, o espeleogrupo conseguiu um fomento da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) — da qual é associado  —  para desenvolver o projeto “Desvendado o Patrimônio Espeleológico do Extremo Sul do Grupo Vazante (Coromandel-MG)”.

A Prefeitura Municipal de Coromandel, por meio da Secretaria de Turismo, também concedeu ao espeleogrupo um apoio para a realização das atividades de campo, que estão sendo realizadas desde junho e se estenderão pelo mês de julho deste ano. A proposta prevê a validação, a prospecção, a caracterização e o mapeamento das feições cársticas presentes no município.

Icnofósseis

Marco Antonio Delinardo da Silva é docente de Geologia e divide a coordenação das pesquisas da equipe com Fernanda Quaglio, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele conta que o grupo descobriu, no interior das cavernas de Coromandel, icnofósseis (vestígios que ficaram preservados) da era Neoproterozóica. A era Neoproterozóica ocorreu a 1000-541 Ma (milhões de anos).

“Esta descoberta é importantíssima para que nós, geocientistas, possamos compreender os eventos geológicos que ocorreram na região no passado”, explica Silva, referindo-se ao ambiente de sedimentação no qual as rochas que constituem as cavernas se formaram. 

Conforme o docente, os icnofósseis identificados são chamados de estromatólitos, que representam estruturas bio-induzidas (cuja deposição é determinada pela ação de organismos) edificadas em carbonato de cálcio (CaCO3).

Como o desenvolvimento de estromatólitos ocorre em ambiente marinho raso, a presença deles em Coromandel reforça a tese de que o mar já esteve presente na região, afirma o geocientista.

“Os estromatólitos representam uma das principais evidências que sustentam esta hipótese, pois estes icnofósseis são vestígios de organismos que vivem em ambiente marinho, especialmente na região costeira. Nós reconhecemos o ambiente onde estes organismos vivos ocorreram no passado por meio de análogos modernos, como os estromatólitos que ocorrem nas praias de Shark Bay, no extremo oeste da Austrália”, argumenta.

Os estromatólitos observados nas paredes da Gruta do Ronan representam secções destes icnofósseis que estão sendo caracterizadas pelos alunos Leonardo Coutinho e Vithor Di Donato sob supervisão da professora Fernanda Quaglio (foto: acervo Gape)

“Além disso, o grupo identificou um processo de geração e evolução de cavernas em ardósias bastante interessante e tem trabalhado em sua caracterização. Em breve, os resultados destas investigações serão apresentados em periódicos científicos”, adianta Silva.

Segundo as medições realizadas pelos pesquisadores, a Gruta do Urubu é a menor das cavidades naturais documentadas e cartografadas no município de Coromandel. São aproximadamente 48 metros de desenvolvimento em seu conduto principal, que dá acesso aos pequenos salões da caverna.

“A maior cavidade natural da região é a Gruta do Ronan, cuja exploração dos condutos e salões e a elaboração das plantas e perfis ainda está em andamento. Dessa forma, muito em breve saberemos a dimensão destas cavidades”, afirma o docente.

Fonte: Portal Comunica UFU