Saiba quando a queimação no peito deixa de ser incômoda para se tornar um alerta importante para a saúde do esôfago
O refluxo gastroesofágico é uma condição comum que afeta muitas pessoas em diferentes fases da vida. Ele ocorre quando o esfíncter esofágico inferior, uma espécie de válvula que impede o retorno do conteúdo do estômago para o esôfago, não funciona adequadamente.
Como resultado, o ácido gástrico, que deveria ficar no estômago, sobe para o esôfago, causando desconforto e sintomas como azia (popularmente conhecida como queimação no peito ou na garganta), regurgitação de alimentos ou líquidos, dor no peito e dificuldade para engolir.
Muitas pessoas experimentam episódios pontuais e, quando o re acontece ocasionalmente, geralmente não há grandes riscos à saúde. No entanto, a situação muda quando esses episódios se tornam frequentes, ocorrendo várias vezes por semana. O refluxo frequente pode levar a uma inflamação contínua do esôfago, conhecida como esofagite, que, se não tratada, pode evoluir para alterações mais graves e até mesmo para o câncer.
Quando o refluxo pode se tornar uma inflamação crônica e risco de complicações?
Se o refluxo não for tratado adequadamente, a exposição contínua do esôfago ao ácido pode levar à inflamação persistente, chamada de esofagite. Essa inflamação pode causar cicatrizes, estreitamento do esôfago (estenose) e alterações celulares na mucosa, que podem evoluir para condições mais graves.
Uma dessas alterações é o esôfago de Barrett, uma condição em que as células que revestem o esôfago sofrem uma mudança, adquirindo características semelhantes às do intestino. Essa alteração é considerada uma condição pré-cancerosa, pois aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de esôfago, especificamente o adenocarcinoma.
A relação entre refluxo e câncer de esôfago é bem estabelecida na literatura científica. Estudos indicam que a inflamação crônica e as alterações celulares decorrentes do refluxo podem, ao longo do tempo, evoluir para um câncer. Embora essa progressão seja relativamente rara, ela é grave e requer atenção especial. A maioria dos casos de câncer de esôfago associados ao refluxo ocorre após anos de refluxo não controlado, especialmente em indivíduos com esôfago de Barrett.
Quando procurar ajuda e como prevenir
Mudanças no estilo de vida são essenciais para prevenir e controlar o refluxo. Recomenda-se evitar fazer refeições ao menos duas a três horas antes de se deitar, reduzir a ingestão de líquidos durante a refeição, diminuir o consumo de álcool e cigarro, manter o peso corporal adequado e evitar alimentos gordurosos, picantes ou muito condimentados. Além disso, manter a cabeceira da cama elevada pode ajudar a evitar o refluxo durante o sono.
É importante procurar ajuda médica se os sintomas forem frequentes, intensos ou acompanhados de dificuldade para engolir, perda de peso, vômitos frequentes e/ou com sangue. Nesses casos, exames como a endoscopia podem ser indicados para avaliar o estado do esôfago e detectar possíveis alterações precocemente.
Tratamento clínico do refluxo gastroesofágico
O tratamento clínico é a primeira linha de abordagem para a maioria das pessoas com refluxo. Ele envolve mudanças no estilo de vida, medicamentos e acompanhamento médico. Aqui estão os principais aspectos:
1. Mudanças no estilo de vida
- Alimentação: evitar alimentos gordurosos, picantes, cafeína, chocolate, bebidas alcoólicas e refrigerantes, que podem piorar os sintomas;
- Horários das refeições: fazer refeições menores e mais frequentes, evitando comer duas a três horas antes de dormir;
- Posição ao dormir: manter a cabeça da cama elevada (cerca de 15 a 20 cm) para evitar refluxo durante o sono;
- Perda de peso: se estiver acima do peso, a redução pode diminuir a pressão no estômago e melhorar os sintomas;
- Evitar tabaco e álcool: ambos podem piorar a função do esfíncter esofágico.
2. Medicamentos
- Antiácidos: como bicarbonato de sódio ou medicamentos específicos que neutralizam o ácido, proporcionando alívio rápido;
- Inibidores da bomba de prótons (IBPs): como omeprazol, esomeprazol, pantoprazol. Esses medicamentos reduzem a produção de ácido gástrico e são muito eficazes no controle dos sintomas e na cicatrização da esofagite;
- Bloqueadores dos receptores H2: como ranitidina ou famotidina, que também reduzem a produção de ácido;
- Pró-cinéticos: ajudam no esvaziamento gástrico e a melhorar o tônus do esfíncter esofágico inferior.
O tratamento clínico costuma ser eficaz na maioria dos casos, especialmente quando combinado com mudanças no estilo de vida. No entanto, é importante o acompanhamento médico para ajustar a medicação e monitorar possíveis complicações.
Quando é indicado o tratamento cirúrgico?
A cirurgia é considerada em situações específicas, principalmente quando:
- Os sintomas persistem mesmo com o uso adequado de medicamentos e mudanças no estilo de vida;
- Há complicações como esofagite grave, estreitamento do esôfago ou esôfago de Barrett que não melhoram com o tratamento clínico;
- Há associação com defeito herniário diafragmático de tamanho significativo.
- O paciente apresenta efeitos colaterais aos medicamentos ou prefere uma solução definitiva.
- Há risco de complicações graves, como o desenvolvimento de câncer de esôfago, especialmente em casos de esôfago de Barrett com alterações celulares suspeitas.
Principais procedimentos cirúrgicos
Fundoplicatura de Nissen: é a cirurgia mais comumente realizada, na qual a parte superior e do fundo do estômago é envolvida ao redor do esôfago ao nível do esfíncter esofágico inferior, reforçando a válvula e prevenindo o refluxo.
Hoje, esse procedimento é realizado preferencialmente por cirurgia minimamente invasiva, como a videolaparoscopia e, mais recentemente, a cirurgia robótica, permitindo uma recuperação mais rápida, menos dolorosa e com maior precisão, mesmo em casos já avançados.
A cirurgia geralmente é indicada após avaliação detalhada, incluindo exames de imagem e endoscopia, e quando o tratamento clínico não consegue controlar os sintomas ou há risco de complicações graves.
Resumo
- A maioria das pessoas com refluxo se beneficia inicialmente de mudanças no estilo de vida e medicamentos;
- A cirurgia é uma opção quando o tratamento clínico não é suficiente, há complicações ou risco de câncer, ou o paciente prefere uma solução definitiva;
- A decisão deve ser sempre individualizada, feita por uma equipe médica especializada, considerando os sintomas, exames e o risco de cada paciente
Reprodução SBT News